domingo, 8 de junho de 2008

Mocas...

Tomo um gole do meu terceiro café duplo em menos de três horas e começo a sentir os efeitos do cocktail anti-depressivo/vitaminico/narcótico de comprimidos que tomei há cerca de uma hora. Estou a voar acima do meu corpo envolvido numa sombra que me rodeia por completo e dentro da qual me sinto seguro.
Fora de mim. O pensamento agrada-me bastante e quase sorrio ao aperceber-me do meu estado. Pensar em silencio numa casa vazia de madrugada faz-me sempre sentir melhor.
Parece-me uma eternidade a ultima vez que me senti assim. Mesmo sabendo que é apenas um efeito momentâneo induzido quimicamente, não deixa de saber bem.
Tenho muito para colocar em ordem cá dentro, mas não faço ideia de onde começar. Passam-me duas ideias pela cabeça. Deixar os dedos bater nas teclas até me cansar sem me preocupar minimamente com o que passa ao ecrã, ou ir buscar um scotch. Decido-me pela segunda. Acho que ainda não estou no estado certo para escrever tudo isto.
Volto já...

Dez minutos para encontrar o copo certo. A cozinha tem dois armários com copos de todas as formas e feitios, mas claro que encontrar um highball tinha que ser complicado. Enfim...
Ah, a maravilha do wiskey escocês. Ide-vos foder, disto não há por cá. Uma garrafinha vinda directamente da Escócia, brinde do meu pai há algum tempo atrás. Engarrafado com 18 aninhos, mesmo como eu gosto. A minha velha preferência pelos 16 teve que ser abandonada por motivos legais. Não estou para ser processado. Era tão bom ter 17 anos caralho.
Tenho um grave problema com álcool e com tudo o que sejam narcóticos ingeridos. Demoram demasiado tempo a fazer efeito. Acabo o copo, dou-lhe 5 minutos para assentar enquanto enrolo um charro.
Não sei bem se é motivo de orgulho pessoal ou indicação de um problema grave de dependência, mas o facto é que mesmo com a mão direita partida acabo de enrolar um charro digno de dar a fumar às divindades do THC (foda-se, a humanidade inventou deuses para tudo, portanto também podem ter inventado deuses para o THC. E se não inventaram, passam a estar inventados e com direitos meus, o que significa que têm que me pagar a mim para os poderem invocar.).

Pois é. Parti a pata dianteira direita num acesso psicótico. Uma discussão de merda cujo motivo já nem me lembro e demasiada merda enfiada cá dentro deu este lindo resultado. Um espelho feito literalmente em pó e o meta do mindinho direito quebrado.
Pai, as nossas noites de copos fazem-me falta. A sério meu, não imaginas o que é estar sem poder desabafar com ninguém. Falta-me aqui alguém que tenha vivido alguma coisa antes de atrofiar e deixar o cérebro definhar neste sitio parado no tempo. Sinto-me preso aqui. Completamente dependente, sem nada de interessante para fazer (valham-me as máquinas de acesso livre que por aí existem senão a minha sanidade tinha ido com o caralho há uns tempos).
O problema é que hacking desvia-me os pensamentos da cabeça durante umas horas, mas eventualmente tenho que largar os computadores e voltar ao chamado mundo real. Acho que sou um bocado escapista (esta merda existe?).
Lista de tópicos das merdas que me estão a foder os cornos. (Estás cá com uma linguagem menino...):
- Estar no Alentejo.
- Ter que esperar por Setembro.
- Saber finalmente o que quero e não o poder ter já.
- Procurar-me a mim próprio e não me encontrar em nada que esteja à minha volta.
- Não ter um acesso à Internet decente.
- Ser uma merda encontrar thc neste sitio.
- Ter que fingir a todos os momentos em que cruzo a porta da rua que me sinto feliz e realizado.
- Não poder trabalhar.
- Estar financeiramente dependente da minha mãe, e ela achar que como estou aqui me posso contentar com o dinheiro para um maço de tabaco por dia, afinal de contas tenho máquina de café em casa, logo não preciso de sair para tomar café.
- Ser impossível dar uma puta de uma foda neste sitio sem andar pelo menos 45 minutos de carro.
- Não ter carro. Eu detesto conduzir, mas estar preso numa aldeia com 1500 habitantes cuja população não tem nada a ver comigo e me vê como um freak fugido do circo tenta-me a reconsiderar a minha opção de não ter carta de condução.

O charro já foi, e ainda por cima era o ultimo até nem sei quando dado que o meu querido dealer trabalha para a minha mãe agora, o que realmente é muito útil. Ou não, dado que ela sabe que ele é dealer e ameaçou despedi-lo se ele me tornasse a vender algo. E sinceramente eu curto o rapaz, é um dos meus "amigos de infância" (o que no meu caso quer dizer que me conheceu antes da minha transformação brutal naquilo que sou agora, e até é dos poucos que aprecia aquilo em que me tornei), bem giro e bastante comestível por sinal, se não tivesse o defeito de ser hetero. Enfim, chega de falar do meu ex-dealer. A ideia percebeu-se. Sou um junkie completamente fodido neste momento. Vale-me o convite do papá para passar algum tempo em casa dele e o facto de ele até me perceber neste caso. Sê optimista Chains, daqui por uns dias voltas à capital, e apesar de não ser o regresso em grande que querias podes pelo menos matar saudades dos amigos (sim, porque não tenho disso cá em baixo, em parte por culpa minha, em parte por culpa de circunstancias passadas, nomeadamente o facto de eu me ter assumido como bissexual numa cidade de merda, o que fez com que muita gente me deixasse de falar. Melhor, menos hipocritas à minha volta).
Preso num sitio que começo a odiar profundamente... Bonita embrulhada Chains...
Só queria estar nos arredores de Lisboa, a estudar pacificamente para tirar o meu curso de literatura, enquanto estudo os apontamentos de engenharia informática do papá para reforçar os meus conhecimentos, porque tal como ele não tenho o mínimo interesse em enveredar profissionalmente por esse caminho neste momento.
Acho que se tivesse essa oportunidade até me metia nesse curso, mas agora não dá. Estou proibido de mudar mais vezes de curso até acabar um. Compreendo, aceito e concordo com os meus pais nesse ponto. Já lhes fodi demasiado dinheiro e já perdi demasiado tempo sem fazer nada de útil. Cansei-me disso.
Não é que me tenha cansado de viver financeiramente à pála deles, até porque, como o meu pai me disse há bastante tempo, sou independente a todos os outros níveis. Há muito que não dou explicações a ninguém sobre nada do que faço. É assim que quero continuar. Sério. Mostrar resultados numa área, mostrar que estou a fazer alguma coisa, e continuar assim para mim agora estaria perfeito.
Eu até nem sou muito difícil de aturar nem nada do género. Se não tiver merdas a acontecer à minha volta que me fodam a vida até sou um tipo pacifico. Não dou problemas. Fumo as minhas ganzas, leio, estudo...
Quero uma vida mais simples neste momento. Não estou minimamente preparado para uma relação com alguém. Ter que dar atenção a alguém, ouvir essa pessoa, partilhar coisas... Parece-me demasiado... nem sei bem como o descrever, mas acho que a palavra mais correcta será assustador. Talvez por o ter feito antes e ter falhado redondamente, talvez por saber que vou foder as merdas se me meter numa dessas, talvez...
Sinceramente, eu se fizer a barba até sou um puto giro, e depois de quatro vodkas cá dentro até sei cantar a canção do bandido, o que para mim me dá os resultados certos para o que quero. E sinceramente, há algo que me anda a atrofiar há uns meses, desde que "acordei" para a realidade. Toda a gente que eu conheço da minha idade ou tem uma relação de namoro a mandar para o casório, ou tem um filho, ou já esteve a viver junto com alguém ou o caralho que me foda. Não consigo perceber, foda-se. Epah, se eu por acaso tivesse 30 anos era perfeitamente compreensível. Mas não. Tenho 21.
Será que penso assim por ser fruto de uma relação precoce que não deu certo? Ou será que sou apenas desligado por natureza desse aspecto da vida? Eu consigo perceber perfeitamente as vantagens de transmitir os meus genes. Até porque nesse aspecto ide-vos foder mas não têm quase nada a apontar-me. Inteligente, belo, com uma saúde de ferro e uns anticorpos do caraças (tirando uma doença de coração hereditária que foi detectada cedo e da qual tento, e reforço o tento, tratar), até tenho uns genes bem fixes. Agora não me fodam, aquilo que vou transmitir à próxima geração não se vai alterar nos próximos anos. É uma constante. Portanto tenho tempo. Até porque ouvi alguém dizer (não dou crédito porque sinceramente não me lembro quem mo disse, senão daria) que ninguém devia ser pai antes dos 40 anos. É quando finalmente se tem paciência para aturar as merdas que um puto faz sem desatinar. Foda-se, os putos são putos, não vão viver a infância para sempre, e vale a pena apreciar essa idade. Gostava de saber o que sei hoje nessa altura para ter aproveitado ao máximo todos os dias desde que comecei a balbuciar palavras até que as minhas hormonas resolveram manifestar-se.
Aprendi muita merda neste ano. Ou talvez já soubesse essas merdinhas mas não as tivesse ainda equacionado e ligado umas às outras (como a minha "querida" professora de história do 11º e 12º me ensinou, tudo tem ligações e repercussões. Nunca gramei aquela gaja, especialmente a mania dela de me dizer que eu era aluno de 20 e não o tirava porque não queria. Claro que não queria. Foda-se, tirei nota naquela disciplina no 10º para me baldar durante dois anos e ainda entrar na faculdade à minha vontade, como ficou provado quando entrei em arqueologia já há 3 anos atrás).
Aprendi algumas sozinho, outras com as poucas pessoas que realmente me quiseram ensinar algo. Aprendi bastante com uma pessoa que conheci no verão passado. Alguém que me abriu os olhos para uma realidade totalmente diferente, que me aconselhou muito bem em vários aspectos. Alguém que passou pelo que eu passei. Alguém que esteve onde eu estou agora. Sigo o meu próprio caminho agora, um bastante diferente daquele que ele seguiu, mas não é esse o mérito?
Tenho a memória despedaçada. Fui eu próprio que o fiz, intencionalmente. Havia demasiado a esquecer. Demasiado que precisava de mudar em mim. Sempre fui agarrado ao passado, e foi a forma que encontrei de escapar dele. (Já tinha mencionado a minha tendência para o escapismo? Acho que já.)
Já que este texto não tem pés nem cabeça, vou aproveitar a desorganização para contar muito vagamente uma história. Ou talvez não. Deixo apenas o essencial, não me apetece esforçar a cabeça a dar pormenores. Nem sempre fui o rapaz giro e interessante. (Não tenho a certeza de ser interessante agora, atenção.) Muito pelo contrário. Durante 15 anos era um puto pequenito, chico-esperto com a mania que sabia mais que toda a gente, esquelético (ainda sou bastante magro, mas porque gosto realmente do aspecto que tenho), que não pisava fora do risco, cuja vida social pura e simplesmente não existia. Era o género de puto que é o alvo preferencial de toda a puta de toda a escola.
Mudei. Aos 16 anos cresci bastante. O meu corpo tomou forma. As borbulhas desapareceram e deram lugar aos três pêlos e meio que tenho hoje na cara (barba de merda que não dá pra fazer nada a não ser a minha pêra e que dá o mesmo trabalho todos os dias como se fosse decente). Mudei de visual. Apaixonei-me. Uma daquelas paixonetas de adolescente que é sempre muito intensa mas que nunca dá em nada de especial. O chamado primeiro amor. Uma metaleira bastante maluca, uma história bastante estranha. Dado que nunca tinha sido aceite antes, ao ser acolhido num meio novo acabei por me adaptar. Tornei-me aquilo que vulgarmente se chama gótico. A tendencia para a melancolia já estava presenta há muito, o apreço pelas artes também. Só tive que limar algumas arestas. Nem foi difícil. Enfim... segui por aí durante uns anos. Perdi-me pelo caminho. Mudei, levei pontapés da vida. Foda-se, tive aquilo que se pode chamar uma adolescência "normal", apesar de na minha opinião ter sido uma merda.
Mais um desabafo estúpido, já que estou nessa onda. Desde os 13 anos que sempre odiei educação física. Não que detestasse desporto, atenção. Fazia umas merdas. Nalguns desportos até era bom (nunca nos de equipa, vá-se lá saber porquê). O que me atrofiava era chegar aos balneários depois. Foda-se, ver 10 gajos todos nus punha-me de pau feito sempre sem excepção. O que quando se tá nu a tomar banho com o resto dos rapazes não é exactamente bem visto. Pronto, já disse. Esta foi difícil. Preciso de outro copo agora antes de recomeçar a escrever. (Entretanto já lhes perdi a conta, mas a garrafa vai mais ou menos a meio o que deve significar que ainda não estou bêbado o suficiente.)
Conclusão (sim, fartei-me agora de pensar, portanto faço uma conclusão, que para quem não sabe, é o ponto onde nos fartamos de pensar e sumarizamos tudo): pah, deixai-me nas calmas, dai-me algum para fumar umas ganzas e uns cigarros e deixai-me estudar. Não peço mais nada. Sério. Pela primeira vez tenho vontade de atinar e fazer alguma coisa útil. (Atinar não significa conformar-me ás regras aceites como normas sociais, e se quiserem discutir essa merda estejam à vontade porque por acaso até é um assunto que curto). Enfim... Começo a ficar demasiado bêbado para ser coerente (se é que o fui até aqui...).

Guarda, publica e sai.

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