terça-feira, 24 de agosto de 2010

- Estás ai?
- Não estou sempre?
- Preciso de ajuda.
- Eu sei.
- Como sabes?
- Existe outro motivo para me contactares?
- Realmente, acho que não.
- Precisamente. Desembucha.
- Sempre tao amoroso.
- Tal e qual como tu, sou um ser pragmático.
- Estou exausto e a começar a desesperar com esta situação.
- Que situação?
- Tu sabes.
- O teu cerebro é pior que uma montanha russa. Dá-me algo com que trabalhar.
- Preciso de emprego.
- Não e o que todos voces aparentemente precisam mais cedo ou mais tarde?
- Sim.
- Então?
- Não consigo encontrar.
- Tens tudo o que precisas?
- Faltam-me documentos ainda.
- Acabaste de dar a ti mesmo a resposta. Arranja-os.
- Tecnicamente já os arranjei, mas ainda não foram entregues.
- Espera. Não é suposto receberes isso em breve?
- Já devia até ter tudo na mão.
- Ou seja...
- Ou seja nada. Não tenho. Estou farto de esperar. Pelo que me disseram era suposto já os ter, mas primeiro alguém se esqueceu, e depois vim embora para aqui. Vou ter que esperar que sejam entregues no correio na minha morada oficial antes de mos reencaminharem para aqui.
- O que se fosse feito electronicamente seria automático. Deixa adivinhar, não é.
- Exacto.
- Em primeiro lugar, tens que ter muita calma, precisas de te relembrar de vez em quando que o mundo não gira em torno do teu umbigo. Ele talvez não se tenha esquecido, apenas não tenha tido tempo para tal. Não o culpes.
- Tens razão.
- Como sempre. Já nem tem piada receber essas palavras.
- Sempre tão modesto...
- Segunda a contar do fim lembras-te?
- Mas vais ajudar ou não?
- Queres instrucções?
- Mais ou menos.
- E esperas que eu te vá dizer algo que tu ainda não saibas?
- E mais ou menos a ideia de falar contigo, sim.
- Esquece. Estás numa situacao complexa. Não posso dizer-te nada de muito especial. Tens orgulho na tua resistência, certo? Usa-a.
- Estou a chegar ao limite.
- Tens piada. Em todas as nossas conversas o estás, e no entanto esse limite ainda não foi atingido. Há quantos anos sabes da minha existência? Há quantos anos comunicamos assim?
- Mais de cinco.
- No entanto continuas a chatear-me com a mesma conversa sem te aperceberes do obvio. Resististe. Reclama as tuas limitações e elas serao tuas. Lembras-te disso?
- Isso e Bach não é?
- É.
- Desde quando usas citações de outros?
- Aprendi contigo.
- Comigo?
- Sim. Por vezes é mais simples e mais eficaz usar algo já existente que matar a cabeça a tentar criar algo novo, se o que já existe cumpre na perfeição as tuas necessidades. É o caso.
- Tu aprendeste comigo?
- Achas mesmo que te aturo apenas pelo prazer de ver um ser inferior a torturar-se? És mais do que aquilo que te apercebes.
- Wow.
- Não era um elogio. Tens ainda anos-luz a percorrer antes de chegares a meu igual. Mas no entanto mereces já há algum tempo a minha admiração. Tem calma puto, resiste. É o que fazes melhor. Já te vi a aguentar tudo e mais alguma coisa e a sobreviver mais forte.
- Não sei se isso é bem assim.
- Sabes sim. Por uma vez vou dizer-te o que precisas de ouvir ao invés de te fazer sofrer antes de te fazer chegar a essa mesma conclusão por ti.
- Estás a despachar-me?
- Estou.
- Porque? Estas assim tão ocupado?
- Eu? Não. Mas tu tens bem melhor que fazer atras de ti. Portanto, aguenta. Tu és bom. Melhoraste bastante. Continuaras a melhorar. Eu sei que aprender batendo com a cabeça na parede e desagradavel, mas é o que fazes melhor. Eventualmente mais esta parede irá ser derrubada. E as marcas da luta passarão a fazer parte das tuas medalhas de honra. Aliás, devias receber uma por teres descoberto a minha existência sem nenhum apoio externo. Mas enfim, estou a divagar. Mais um hábito que apanhei contigo. O que quero realmente dizer é que tu tens o necessério. A paciência não é um dos teus fortes, mas é algo que precisas de dominar. Sê paciente. Espera pelo que precisas e enquanto o fazes tira essa cara de zombie esfomeado com nojo de cérebros da cara, ergue a cabeca e continua a respirar. Já que mais nao seja, produzes dioxido de carbono para as plantas respirarem. Já e uma contribuição. E tenho a certeza que a tua presença, e um sorriso nessa tromba farão maravilhas. Se não apenas a ti, aos que te rodeiam. Não te esqueças que já não estas isolado do mundo preso entre quatro paredes. O que já em si é uma vitória. E uma que ja me estava a tardar. Agora desaparece-me da frente, levanta o cu, vai dar um beijo a cada um daqueles dois e sente-te feliz por aquilo que tens. E continua a resistir e a lutar pelo que queres. Adeus.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Acabar algo afecta-me sempre. Positiva ou negativamente depende do que se acabou, mas existe sempre um travo que fica, uma sensação que teima em não desaparecer durante umas semanas.
Acabei o CET. Finalmente penso. Precisava disto, queria mesmo esta certificação, que me vai abrir portas para entrar num mundo para o qual tenho olhado de fora da janela e desejado mil e uma vezes entrar. Mas ficou no entanto um pequeno travo amargo. Saudades suponho, melancolia. Conheci pessoas diferentes, pessoas que me abriram os olhos para outras realidades e outros pontos de vista, que me fizeram pensar e que me obrigaram a ponderar algumas coisas que eu tomava como certas.
Apesar de não saber se realmente aconteceu, gostava que cada um deles tenha aprendido um pouco que seja comigo, pois se tal aconteceu, então a minha passagem por ali não foi totalmente uma perda de tempo.
Sou péssimo em despedidas, detesto aquele típico "Adeus, gostei muito de te conhecer...". Deixa-me desconfortável, sempre o fez. Por isso mesmo não disse nada a nenhum deles, não lhes disse o quanto me diverti, ou o quanto me ensinaram, ou o quanto alguns me torraram a paciência (devem pensar que o mundo é um mar de rosas não?!). Não disse nada. Apenas "Até um dia destes." Sou péssimo em despedidas...
Alguns deles vou ver de novo, talvez até bastante em breve. Outros, talvez não possa estar pessoalmente com eles durante bastante tempo, se é que voltarei a estar. Esta foi a maneira que arranjei de agradecer os momentos a cada um deles.
Tentaria fazer um agradecimento pessoal a cada um, quer aos colegas de turma, quer aos formadores, mas a verdade é que naqueles dois dias foi precisamente o que me andei a esquivar fazer. Deixo um grande obrigado quer aos meus colegas de turma, quer aos meus formadores. Agradeço especialmente o facto de me terem feito compreender que eu talvez não seja tão mau quanto penso que sou, que afinal sei bastante mais do que realmente me apercebo. Agradeço ainda mais o terem-me mostrado que o meu caminho de aprendizagem ainda mal começou e que apesar de até ter umas luzes em informática, que existe muito, mas mesmo muito mais a aprender.
Sentirei saudades porque cada um de vós passou de um oponente a vencer (que sim, foi assim que olhei para todos vós no primeiro dia do CET, um oponente, um adversário que eu teria que vencer, alguém cujo conhecimento eu teria que bater) a um amigo com quem partilhei bons momentos, a um amigo que aturou as minhas neuras e me disse que eu conseguia aguentar, a um amigo que me deu mais confiança em mim mesmo. Porque cada um de vós é especial e valioso pelas diferentes experiencias passadas e pelo que têm a dar a quem vos cruza o caminho. Terei saudades.
Um grande abraço a todos vós:
Ana Almeida, Catarina Gavancha, Diogo Tavares, Emanuel Balsa, Edgar Matos (sei que não aprecia muito o seu ultimo nome, portanto fica assim), Nelson Cebola, Paulo Silva, Paulo Serol, Leonardo Silva, Carlos Rodrigues, Ricardo Almeida, Ricardo Rosa, Luís Alegria, Filipe Reixa, Silvia Gomes, Andreia Rodrigues, Susana Monteiro, Helena Pinadas, Hugo Parente, José Gonçalves.
Welcome to the Grove.