domingo, 25 de maio de 2008

O som das pás a atirar terra para cima de um caixão de carvalho, na chuvosa tarde de outono poderia parecer-lhe familiar, acolhedor até, não fosse o ocupante do caixão ser ele.
Privado do minimo movimento pelo veneno paralisante injectado nas suas veias, privado da própria memória de tudo quanto fosse anterior á picada, dado como morto, preso á consciencia aterradora de viver todo o processo sem ninguém se aperceber de que ele estava, ainda que por quanto tempo fosse uma incógnita para ele, vivo, ele aguardara todo o processo com uma raiva passiva. Já só queria que se despachassem. Não podia mexer um musculo, não podia pedir ajuda, não podia falar. Desde que lhe fecharam as palpebras não podia ver. Só ouvia. Ouvia tudo atentamente. Coisas que não sabia até aquele momento terem som, sons mais distantes que antes lhe teriam sido negados. Conseguia ouvir o corvo na mata ao fundo da colina no topo da qual estava a ser enterrado. Conseguia ouvir o riacho, os passos a partir do cemitério, o vento por entre as campas. O coveiro a pensar alto para si o que fazer no dia seguinte. Até que até o coveiro acabou o serviço. E os seus passos desapareçeram do espaço do cemitério.
Agora estava ali sozinho. O seu corpo paralisado mal apenas precisava do suficiente para manter vivos os seus orgãos vitais, o que estava a provar ser menos do que ele esperava.
Restava-lhe esperar...

terça-feira, 20 de maio de 2008

One more day to regret...



Não sei sequer por onde começar. Tinha um discurso preparado, mas desvaneceu-se assim que abri a página.
Cansei-me. Cansei-me de tentar cumprir um sonho que não me pertence, de perseguir algo que no fundo não quero. Talvez por isso tenha falhado. Talvez não. Não importa.
Vou embora. Embora deste sitio, desta cidade. Não consigo respirar livremente aqui, os fantasmas do passado assombram-me constantemente, sufocam a minha vontade e a minha criatividade. Não escrevo nada que valha a pena ler há meses, e mesmo isto é mais um desabafo do que algo decente. Faço-o por descargo de consciência, por não ter vontade de escrever algo personalizado para cada pessoa que merece uma explicação. Sério, não me apetece. Ultimamente não me apetece nada. Não sinto nada, não quero nada...
Perdi-me algures de mim mesmo e agora não consigo lembrar-me onde me deixei quando coloquei a mascara que tenho usado há tanto tempo. Hoje a mascara fica aqui. Teria que a deixar algures. Prefiro deixá-la num sitio que lhe pertence. Num sitio que me pertence.
Fazer as malas, preparar-me para partir, tomar o ultimo café na pastelaria do costume... O travo é amargo, um misto de melancolia, tristeza e dor. Um sentimento de perda. É perfeitamente justificável. Afinal deixo para trás três anos da minha vida. De certa forma três anos desperdiçados, três anos sem um único resultado produtivo para apresentar. De certa forma, deixo também para trás a crisálida onde me formei. Não sei se gosto do que acabou de sair de dentro dela, mas tenho tempo para avaliar isso depois. Deixa as asas secarem, absorve a luz e o calor do sol pela primeira vez na tua nova forma antes de abrires as asas e voares para longe.
Para onde ao certo ainda não sei. Não me importa. Qualquer sitio deve ser melhor que este.
Conheci pessoas espectaculares e outras nem tanto, pessoas boas e monstros disfarçados de príncipes e princesas. Fui um desses monstros também. Deveria arrepender-me? Não sei. Sei que não me arrependo minimamente de ter sido um deles. Sei também que o meu lugar já não é entre eles.
Monstro?
Príncipe?
Mascara?
Em que me tornei eu?
Que procuro?
Quem sou?
O que quero?
Tantas perguntas no limiar da minha consciência, todas elas sem resposta há vista.
Mais uma. Que tenho eu neste momento?
Estranho perguntar-me isto. Se me surgisse em qualquer outro momento esta pergunta na mente provavelmente responderia imediatamente com um bem acentuado "nada". Mas não é exactamente essa a verdade. Levo comigo conhecimentos e habilidades. Alguns bons, outros nem tanto, outros ainda definitivamente maus. Levo também uma pequena conclusão que, certa ou errada, é minha. Não há bem ou mal, apenas diferentes pontos de vista.
Seria errado partir sem deixar algumas palavras a todos (muitíssimo poucos, penso) que irão sentir a minha falta.
A quem me amou, obrigado.
A quem acreditou em mim, desculpem-me.
A quem me ajudou, um grande obrigado. Espero um dia poder devolver tal gesto.
A quem me odiou, obrigado por me masturbarem o ego.
A quem ousou abrir-me os olhos para a realidade, nunca te vou poder agradecer o suficiente.
Aos amigos, até breve, eu volto para vos visitar.
Às curtes sem significado, obrigado por terem sido um objecto de estudo tão fascinante.


Enfim... não quero alongar-me demais. Não vou deixar de estar contactável, e não vou tratar ninguém de forma diferente apenas por sair daqui. O meu e-mail está sempre disponível, e é verificado pelo menos uma vez por dia. Responderei a toda a gente.

Por agora, são horas de abrir as asas e voar em busca de mim mesmo.
Um beijo e um abraço,
Fábio Carvalho.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

The following text was written in January 8 1986 by +++TheMentor+++

Another one got caught today, it's all over the papers. "Teenager
Arrested in Computer Crime Scandal", "Hacker Arrested after Bank Tampering"...
Damn kids. They're all alike.

But did you, in your three-piece psychology and 1950's technobrain,
ever take a look behind the eyes of the hacker? Did you ever wonder what
made him tick, what forces shaped him, what may have molded him?
I am a hacker, enter my world...
Mine is a world that begins with school... I'm smarter than most of
the other kids, this crap they teach us bores me...
Damn underachiever. They're all alike.

I'm in junior high or high school. I've listened to teachers explain
for the fifteenth time how to reduce a fraction. I understand it. "No, Ms.
Smith, I didn't show my work. I did it in my head..."
Damn kid. Probably copied it. They're all alike.

I made a discovery today. I found a computer. Wait a second, this is
cool. It does what I want it to. If it makes a mistake, it's because I
screwed it up. Not because it doesn't like me...
Or feels threatened by me...
Or thinks I'm a smart ass...
Or doesn't like teaching and shouldn't be here...
Damn kid. All he does is play games. They're all alike.

And then it happened... a door opened to a world... rushing through
the phone line like heroin through an addict's veins, an electronic pulse is
sent out, a refuge from the day-to-day incompetencies is sought... a board is
found.
"This is it... this is where I belong..."
I know everyone here... even if I've never met them, never talked to
them, may never hear from them again... I know you all...
Damn kid. Tying up the phone line again. They're all alike...

You bet your ass we're all alike... we've been spoon-fed baby food at
school when we hungered for steak... the bits of meat that you did let slip
through were pre-chewed and tasteless. We've been dominated by sadists, or
ignored by the apathetic. The few that had something to teach found us will-
ing pupils, but those few are like drops of water in the desert.

This is our world now... the world of the electron and the switch, the
beauty of the baud. We make use of a service already existing without paying
for what could be dirt-cheap if it wasn't run by profiteering gluttons, and
you call us criminals. We explore... and you call us criminals. We seek
after knowledge... and you call us criminals. We exist without skin color,
without nationality, without religious bias... and you call us criminals.
You build atomic bombs, you wage wars, you murder, cheat, and lie to us
and try to make us believe it's for our own good, yet we're the criminals.

Yes, I am a criminal. My crime is that of curiosity. My crime is
that of judging people by what they say and think, not what they look like.
My crime is that of outsmarting you, something that you will never forgive me
for.


I am a hacker, and this is my manifesto. You may stop this individual,
but you can't stop us all... after all, we're all alike.

+++The Mentor+++