domingo, 7 de abril de 2013



Nunca escrevi sobre ti. Nunca pensei, nunca sequer me passou pela cabeça limitar-te a um dos meus devaneios psicadelicos.
Escrever sobre ti, ou mesmo para ti é e sempre será algo quase impossivel. Jamais conseguiria capturar a tua verdadeira essencia em palavras, e escrever-te sobre o quanto te amo sempre
me pareceu... nem sei...
Parece-me inutil. Parece-me esforço em vão. Porque tu sabes que te amo. E não há mais tema. Tudo fica dito numa frase, quando no fundo aquilo que por dentro de mim passa é tanto mais.
Aquilo que há dentro de mim... Como se descreve o desejo insaciavel de alguem? Como se explica que cada dia fica melhor por acordar ao teu lado?
Recordo as noites passadas longe de ti, as longas horas de insonia e saudade, os suspiros pela tua presença, a ansia do toque da tua mão na minha.
Recordo com um sorriso as mil e uma conversas animadas ou não, sobre tudo ou nada, horas das nossas vidas anteriores. Recordo a certeza de que nunca ninguem me conheceu como tu
conheces. Mostrei-te tudo de mim, e continuo a procurar mais para mostrar.                                        
Desejo conhecer cada pedaço de ti. Parece obsessivo não?
Desejo estar sempre perto de ti porque tu acalmas as trevas que me assolam, porque tu tantas vezes foste a unica pessoa com quem eu podia contar.
Porque tu conheces-me a mim, conheces as personagens e as trevas e de alguma forma continuas a ver a minha luz, ainda hoje.
Conheces e partilhas a necessidade de renovação interna e externa, bem como a busca de paz.
Sinto o amargo sabor de te perder. Pior de cada vez que acontece.
Sei o quão sufocante eu posso ser.
O quão ansioso.
Falham-me cada vez mais as palavras. É também por isto que não tento escrever sobre ti.
Preciso de mais que palavras para te mostrar aquilo que quero que vejas comigo.
Preciso de mais que palavras para transmitir tudo aquilo que precisaria. Precisaria de uma vida para escrever o que vivi enquanto te amava. Mas pretendo viver uma vida a amar-te, não a
escrever sobre memorias.
Quero-te. Desejo-te. Anseio pelo abraço da tua alma, pelo toque das tuas palavras, pelo sabor do teu perfume...
Obsessivo, psicopata... quase.
Porque partilho contigo aquilo que será sempre o mais importante da minha vida, o nosso filho.                                                                                      
Porque quero que sejas livre e feliz e que acordes com um sorriso por um novo dia, todos os dias... porque a tua felicidade para mim é importante, tanto (sê honesto ao menos, mais) que
a minha.
Amo-te. Desde o primeiro dia em que te vi. Até ao ultimo dia da minha vida. Não importa o que se passe, ou onde estejamos na altura, juntos ou separados, esta será a realidade.
Jamais conhecerei alguem como tu, jamais partilharei com alguem o que partilhei contigo.
Jamais a minha porta se fechará para ti, não importa o estado de alcoolemia em que eu possa estar (e esta casa pelo menos por agora parece a Arabia Saudita).
Delirio escrito sob efeitos psicadelicos... Desculpa, mas seria incapaz de te escrever isto de outra forma. Penso se deveria sequer mostrar-te. E caso o fizesse, como?
Preciso de um capuccino.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

E tu és a unica certeza que tenho neste momento, o unico pilar inabalável do meu pequeno mundo instável e inconstante, e o amor que sinto por ti é tudo aquilo que me prende a este mundo dito real quando nada parece para mim fazer sentido.
Tenho medo sabes? Tenho medo que ao perceberes isto te assustes. Não vou ser consumido pelo meu amor. Não estou dependente de ti mais do que tou de qualquer outra coisa na minha vida. Mas no entanto os momentos que passo longe de ti parecem-me longos e penosos, as noites frias da tua ausencia custam a passar. Não sei como te mostrar sem ser assim, a unica forma que ainda tenho de passar algo cá de dentro para esse mundo onde todos vós existem, a minha derradeira forma de escape a tudo o que considero monotono e restritivo.
Gostava de conseguir falar contigo, poder contar-te tudo o que sinto, mas o mero pensamento do teu maravilhoso sorriso a desaparecer se percebesses tudo o que se passa cá dentro previne-me de sequer formular a primeira palavra.
Isolei-me. Cortei as relações com o mundo há muitos anos. Deixei de existir nele e para ele. Reparaste hoje meu amor? Tive realmente dificuldade em me manter atento, em não me deixar divagar para os recantos da minha mente e do meu mundo pessoal. Ah se eu pudesse...
Gostava de te entregar uma chave deste mundo como te entreguei a chave de minha casa, convidar-te a entrar e ver por ti o que se passa quando não estás, quando estás, sempre... Mas não posso. Não é tão simples como eu gostaria, e há demasiado tempo que não sei o que é esforçar-me por algo, até agora. Não sei onde restam algumas forças no meu ser, mas de onde quer que elas venham, serão usadas para a tua felicidade, para a nossa, pois ao ver-te feliz estarei feliz, independentemente dos estados de espirito em que possa estar, de tudo o que possa querer fazer ao resto do mundo, sei que enquanto me quiseres aqui ao teu lado, aqui estarei, e sei que consigo resistir a tudo enquanto assim for. Estou preparado amor. Sei que não parece... mas estou.
Não sei como te mostrar tudo. Mas sei que encontrarei uma forma.
Amo-te. Hoje, sempre, para sempre.
- Encontrámo-lo.
- Como?
- Tenho agentes nesta area. Tenho a localização dele.
- Onde.
- Castelo.
- Parece-me uma armadilha. Quão quente é a noticia?
- 5 minutos.
Estavam num beco não muito longe, uns 15 minutos a pé do local referido, um sitio escondido com uma curva para lado nenhum senão predios altos. Eram dois, um mais pequeno, de aspecto agil, que falava com poucas palavras, e o outro, da mensagem, um pouco mais alto, tendo um metro e setenta e cinco, com musculos nao volumosos mas visivelmente tonificados e habituados a ser usados.
O mais pequeno estendeu o braço esquerdo perpendicular ao corpo, palma para cima.
Acima da palma da sua mão uma pequena distorção esférica de cerca de 10 centimetros de raio apareceu do nada, começando a aparecer corvos a voar de lá, 12 no total, que se foram empuleirando nos sitios onde podiam no beco.
O portal fechou e o homem falou:
- Encontrem-no. Está no castelo. Quero ver.
O bandos levantou voo quase sem um som, desvanecendo-se no céu alaranjado do por do sol.
O mais alto falou:
- E agora?
- E agora o quê? Castelo. Corre.
E começou a correr beco fora, desaparecendo na esquina da vista do outro homem.
Um suspiro de irritação escapou aos labios de Griver. Sentia-se inquieto. Não sabia se era do repentino e aparentemente facil resultado, ou das chamas alaranjadas do ceu, mas não se sentia calmo o suficiente. Ele apenas havia sido contratado para "Encontrar, observar e intervir caso necessário.".
Griver recebera a descrição, bem como um pequeno conjunto de supostos objectos que poderiam ser usados para ajudar a busca.
Atirara com esse conjunto para um canto da sala de casa e esquecera-se que ele existia.
Ele tinha os seus metodos de encontrar pessoas e coisas.
Acabou por seguir a correr tambem, se bem que a um passo mais lento que o outro. Sabia o caminho que ele iria fazer. Não pretendia perder tempo e seguiria por um atalho...

Rev, o homem dos corvos seguia correndo, as vestes e calçado leves a ajudar no rapido progresso pelas ruas que o separavam do algo. Corria leve e agil, desviando-se no ultimo momento de qualquer objecto ou pessoa, deixando uns quantos transeuntes a olhar para ele a continuar caminho com insultos contidos ou não.
Não lhe interessava. Sabia que os seus corvos tinham ja visão do alvo e a noite estava a cair depressa. Apesar de a iluminação da cidade começar a acender, a visibilidade dos céus estava a começar a ser quase impossivel.
Continuou a correr mais alguns minutos antes de chegar à subida do antigo castelo.
Parou ao inicio da mesma, olhos fechados, respirando calmo, partilhando a visão dos seus corvos.
O seu alvo continuava no mesmo sitio, mal se tendo mexido desde que o primeiro corvo o localizou.
Parece demasiado simples. Rev é um assassino. Discreto quanto baste e eficaz nos contratos, havia sido chamado a este por meio de um intermediario de algum cliente que não queria mostrar a face.
Recebera a descrição e um conjunto de objectos que poderiam ajudar a localizar o alvo.
Observara-os com atenção durante horas antes de prosseguir as acções que culminariam agora. Permite-se a si mesmo rever as "pistas".
Um punhal de prata com simbolos indecifraveis. Mantivera-o consigo por parecer uma lamina semi-util eventualmente, e leve o suficiente para não o perturbar.
Recebera um livro com bastantes simbolos arcanos escritos em caracteres miudos ao longo de paginas a fio. Perdera bastantes horas com estes, tentando dar sentido ao possivel significado, mas alem de algumas passagens mais reconheciveis a apreciadores da materia, o grande conteudo era perdido pois parecia uma distorção dos poucos que reconhecia, como se um pintor procurasse nova forma sob uma tela antiga.
Havia no entanto um leve ressoar arcano, forte o suficiente para conseguir talvez distinguir o seu antigo dono.
Havia um pedaço de um lenço, e algumas pedras preciosas tambem no mesmo saco.
A eficacia de Rev na sua função derivava muito de possuir capacidades que poucos possuem no que toca a ligação a animais, e particularmente a aves.
Ele não lhe chamaria ordenar-lhes que façam, mas mais um pedir de ajuda a alguem que lhe é superior.
Possuia ainda algumas capacidades arcanas limitadas, resultantes do acordar de um poder latente que nunca havia sido modelado, explorado ou dominado. Continua ainda a explorar o potencial deste recurso, mas aquilo que domina de momento deu-lhe aquilo que precisava para atirar abaixo os mais duros alvos.
Continuava ainda incerto, inseguro. Havia recebido instruções para contactar aquele batedor, sem saber bem porquê. Tinha a certeza que o seu alvo era um individuo perigoso, e pelo toque do pequeno livro, esperava que ele tivesse algum potencial arcano. Potencial talvez bem mais praticado que o seu.
Quebra a meditação e abre os olhos. Olha em volta, procura o batedor, mas do mesmo não há sinal.
- Lento. Não preciso mais dele. Tenho olhos lá em cima.
Um tiro unico, vindo do alto...
Era o pensamento de Rev. Repetido como mantra dentro da sua cabeça.
A noite estava aí finalmente. Continuou a correr, percorreu a subida, zigzagueou entre as apertadas ruelas do castelo até se encontrar proximo de onde o seu alvo ainda permanecia, quieto, como que meditando.
Subiu um dos predios de dois andares e preparou um projéctil entre as mãos. Ele era bom neste tipo de tiro. Longa distancia, silencioso, inesperado. Morte silenciosa vinda através de um pequeno corvo de energia arcana que atravessa o coração da vitima pelas costas. Nem existe tempo de resposta, não há uma luta. É assim que Rev elimina os alvos. É este o plano, e o corvo larga a segurança da palma das suas mãos, voando em direcçao as costas expostas do seu alvo.
Acertara.
Desceu e foi confirmar a morte.
Deparou-se com o homem precisamente na mesma posiçao, encostado ao rebordo da muralha.
Disparou de novo. Em cheio, mas nenhuma reacção.
Aproximou-se mais ainda.
A figura permanecia imovel.
Sentiu a sua cabeça a latejar. A dor intensificou-se, tornando-se agonizante.
Perdeu os sentidos.

É certo que quando se deambula pela cidade constantemente a horas perdidas mais tarde ou mais cedo encontram-se objectos. Chamem-lhe sorte, acaso, observação, ou outra coisa qualquer, mas no momento certo olham para o sitio certo e vêem algo interessante. 60€, uns quantos isqueiros engraçados que acabaram na colecção, oculos de sol, algumas chaves (sempre gostaria de saber o que abrem...)... enfim... isto acontece tipo uma vez por mês, mas acontece. É probabilidade acho.
Mas parece-me ridiculo que um junkie a ressacar thc encontre no regresso da faculdade a casa 2.5g de uma bolota fantástica. Parece-me sorte ou coincidencia a mais. Teorias da conspiração...
Fode-te.
Por teres cruzado o meu caminho. Por teres existido. Por me teres feito mostrar-te o meu mundo. Por me incluires no teu. Por me teres mostrado tanto. Por me teres ensinado a amar.
Pensas mesmo que podes voltar atrás anos no tempo, recuperar todos os conhecimentos em duas semanas e seguir esse caminho que deixaste como se nunca tivesses saído dele? Achas mesmo?
Quando te perdes de ti mesmo, como te voltas a encontrar? Há algures um mapa secreto? Uma qualquer pista que não viste, escondida debaixo do teu olhar?

Onde estás agora que preciso de ti?

Posso pedir-te ajuda? Ajudas-me? Sério? Farias isso por mim?

Não. Claro que não.

"Eu sei o que é melhor para ti. Acredita em mim."

TRETAS. Mentiras e ilusões. Se sabes mesmo o que é melhor para mim porque raio não és feliz? Se sabes o que é melhor para mim, não devias saber primeiro o que é melhor para ti?

"Desiste deste mundo, desiste do seguinte, desiste de desistir."

Paz de espírito. Sossego. Calma e conforto. Não preciso de mais.

"Não és tu que tens que deixar de ser complicado, é a tua vida que tem que passar a ser simples."

Lembras-te do Bruno? Ele era feliz. Livre.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Mini desafio que me fizeram.

Estava a comer salada e a beber um copo de agua, seriam umas 3 da tarde.
Salada e água... porquê? Por serem a unica coisa que o meu estomago magoado e ferido aguenta neste momento.
A noite passada nao existe na memoria e tudo o que sabes é o efeito do que se passou, o murro no estomago de saber ter feito merda e nao conseguir lembrar-me atinge-me.
Como salada, bebo água.
Preciso de musica e de lavar as feridas e o sangue da minha roupa.
O que raios se passou esta noite?

sexta-feira, 22 de março de 2013

Um pouco de fantasia que escrevi há pouco

Ele entra de rompante taberna adentro, gritando a plenos pulmões:
- Demónio. Sei que estás aqui, mostra-te ou reduzo este lugar a cinzas contigo lá dentro.
A repentina entrada do jovem estranho num lugar apinhado de homens de mau feitio nesta zona das docas, especialmente dadas as palavras, causaram com que toda a taberna paralisasse um momento, olhos fixos no estranho, mãos a serem apertadas em torno de tudo o que pudesse servir de arma.
No meio do conturbado momento, um humano sentado sozinho numa mesa junto à lareira chamou a atenção geral:
- Se caças demonios queimando inocentes, és tão mau quanto o que tentas caçar. E que tal se acalmasses os nervos, te sentasses a beber uma cerveja enquanto me contas o que se passa. Willie, dá-nos uma caneca e enche-me o calice por favor. O resto de vocês podem voltar a beber descansados.
O humano era alto, vestido de roupas largas, negras, se bem que desgastadas. Um manto por cima de uma blusa justa e calças rasgadas no fundo. Era semi-conhecido. Semi porque toda a gente o tinha visto ali antes, não porque alguém soubesse algo sobre ele.
O jovem pareceu acalmar-se, e a atenção geral acabou por desvanecer dele pouco antes do olhar assassino passar a um olhar interrogativo virado ao humano que o havia convidado a sentar.
- Não estás à espera que eu me vá levantar e puxar-te a cadeira como faria a uma senhora, certo? Willie...
- 'Tou a ir. - com isto o taberneiro entregou uma caneca de cerveja e um calice novo na mesa e voltou para trás do balcão.
O jovem sentou-se e bebeu um longo trago da caneca. Entretanto, o homem de negro questionou-o:
- Quem ou o que procuras tu?
- O demonio que destruiu cinco blocos do mercado há alguns anos atrás.
- Referes-te à explosão de há alguns anos? Toda a gente pensa que tal foi um acidente.
- A minha familia morreu nesse "acidente". (O tom era amargo ao dizer a palavra.)
- Compreendo. Mas... se procuras o demonio que o fez... é porque sabes que não foi acidente. Explica-me.
- Eu consigo sentir e manipular poder arcano. Aquela explosão foi uma explosão arcana, não uma explosão normal como toda a gente pensa. Foi tão intenso que mesmo hoje se consegue sentir os resquicios da energia conjurada nesse dia. É possivel ler a assinatura arcana.
- Ler?
- Sabe, a energia canalizada responde de forma ligeiramente diferente, deixa rasto diferente conforme a pessoa que a conjura. Quanto mais potente o uso, mais fácil é distinguir quem é o responsavel, se para tal conseguir que ele revele ainda que o mais pequeno traço de energia arcana proximo de mim. É por isto que sei que ele veio para aqui. Mas a verdade é que não sinto nada neste momento. Pelo que percebi, terá baixado qualquer defesa arcana depois de ter entrado. Consegui seguir o rasto até aqui.
- Compreendo. E que planeias fazer quando encontrares a pessoa em questão?
- Matar aquele demonio e livrar o mundo de um assassino perigoso com poderes que não deveriam cair em mãos como as dele.
- Portanto, deixa ver se percebi... tu tens o quê? 16 anos?
- 18.
- Certo. E planeias matar um demonio que há alguns anos arrasou com quase metade do mercado a meio da noite. Demonio que indicas conseguir usar o mesmo tipo de poder que tu reclamas ter, e que portanto tem exactamente as mesmas vantagens extra-fisicas que tu. Como podes garantir conseguir eliminar alguem assim? És um jovem. Devias estar a desenvolver o teu talento em vez de a correr atrás da morte. Planeias juntar-te à familia que já perdeste é?
Um ar de seriedade e dor tomaram conta do jovem mago.
- Não posso falhar. Não posso morrer enquanto aquele demonio existir.
- Se falhares morres, certo? Sem segunda oportunidade.
- Recuso-me a falhar.
- Ainda assim, continua a ser uma possibilidade. Estou apenas a ajudar-te a pensar. E tu resolves entrar a berrar que vais queimar o sitio. Jovem Mago, o taberneiro era um antigo Escarlate que se reformou ao perder a perna esquerda. Mesmo sem a perna, aposto que ele ainda te conseguia fazer estragos, magia ou não ao barulho.
- Escarlate? Aqui? Pensava que a organização deles apenas operava a norte de Val-horn.
- Reformado. E eles têm agentes bem alem de Val-horn.
- Certo. Não receio nem um Escarlate. A minha presa é bem mais poderosa.
- Diz-me uma coisa. Se esse demonio fizesse uso da sua energia agora, tu reparavas nele certo? Reconhecerias a assinatura arcana?
- Sim.
- Optimo. Mantém-te atento então.
- Atento a quê?
Ao redor deles, os ocupantes da taberna começaram a adormecer, um a um, no local onde se encontravam. Os unicos resistentes eram os ocupantes da mesa e o taberneiro, que com um ar entediado resolveu intervir:
- Drak, podes por favor parar de usar a minha taberna para testes teus?
- Desculpa Willie, mas aqui o nosso amigo precisava de uma pequena dose de energia arcana para confirmar se existia aqui um demonio.
O jovem mago estava de pé, em posição de defesa e com uma bola de chamas entre as mãos, parada mas pronta a ser atirada.
As chamas apagaram de repente, bem como pouco depois começaram a ouvir-se os clientes a começar a acordar, resultado do cancelamento do feitiço de sono.
- Willie... porque fizeste isso? - palavras de Drak, o homem de negro.
- Porque ali o pirralho ia disparar aquela bola contra ti. Acho que ele achou o demonio dele. levem isto lá para fora. Eu vou continuar a manter a minha tecnica activa, portanto nem pensem que um pingo de energia arcana vai ser usada dentro da minha taberna.
Drakallis tranquiliza o taberneiro:
- Descansa, eu vou com ele, e vou tentar esclarecer o que se passa. Isto se ele resolver ouvir, que esta cabeça deve ser dura que nem rocha. Normalmente magos de fogo são assim.
- Tens razão. Mas tenta não acabar com o pirralho. Ele parece ter algum talento.
O mago permanecia incredulo a olhar para as palmas das mãos, perplexo.
- A técnica de anulação dos Escarlates. A minha magia é inutil.
- Exacto pirralho. E aqui a do teu demonio tambem. Mas ao contrario de ti, garanto-te que ele sabe sobreviver sem magia. Pira-te do meu estabelecimento por agora e não destruam nada dentro da cidade enquanto tentas esquartejar ali o Drak. Já agora, a cidade é mais ou menos o alcance do meu poder. Estou enferrujado, conseguia cobrir a provincia.
Drakallis pegou no mago pelo ombro e praticamente arrastou-o para a rua mal iluminada naquela fria madrugada. Viraram a primeira esquina apos a saida para um beco, e de repente o jovem perdeu temporariamente a noção de onde estava.
Quando a sua mente conseguiu finalmente resolver a confusão interna apercebeu-se de que se encontrava numa clareira de uma floresta, não fazia ideia de onde.
- Teletransporte miudo. Bastante util. Foi por isso que me seguiste até ali. É por isto que nem é dificil de identificar os meus passos para alguem como tu. São raros nestas partes do mundo sabias? Aqueles que conseguem realmente dominar a energia.
- Foste tu quem causou aquela explosão.
- Não. Eu fui obrigado a causar aquela explosão. O Willie perdeu a perna graças a essa explosão. Muitos outros teriam morrido se eu nao tivesse causado essa explosão. Aquilo que aniquilei nesse dia sim, era um demonio. Eu ainda sou humano, se bem que por bem pouco, acho eu.
- Como assim?
- Ah. O meu corpo é humano, mas eu não sou propriamente um humano normal.
- Que queres tu dizer com tudo isso?
- Eu, o Willie e mais dois membros dos Escarlate terminamos uma missão durante essa explosão. O objectivo era uma aberração, um mago possuido. O nosso objectivo era o demonio, não o hospedeiro.
- Tu és um Escarlate?
— Já fui. É uma longa história. Retirei-me pouco depois dessa missão.
- Eu quero matar-te.
- Já te disse, estás a enfrentar alguem que te é vastamente superior.
- Não acredito em tal.
Uma bola de chamas passou a razar a cara de Drak, desviada de curso.
- Como fizeste isso?
- Magia.
- Eu não falhei a pontaria, tu não te mexeste, a minha bola simplesmente desviou-se de ti.
- Exacto. Magia.
Três novas bolas, duas deflectidas para os lados, a terceira voltando para trás e parando em frente da cara do mago.
Raizes com espinhos brotaram do chão, envolvendo-lhe as mãos e os pés, prendendo-o num abraço que o deixava praticamente indefeso contra a explosiva bola de chamas ainda parada em frente da sua cara.
- Os meninos não deviam brincar com fogo.
- Atreves-te a fazer troça de mim?!
- Se queres matar a tua presa, precisas conseguir sobreviver ao seu ataque. Pensavas mesmo que podias simplesmente matar-me com uma bolita de chamas?
Um pilar de chamas envolveu o mago, queimando as raizes e absorvendo a bola que se encontrava em frente da sua cara.
Varios outros projecteis irromperam do pilar na direcção de Drak.
Todos eles certeiramente apontados ao seu peito.
Drak não se mexeu e absorveu os projecteis.
Várias explosões depois o pilar desvaneceu-se, o mago com ar cansado esperava a poeira do devastador ataque baixar para revelar um cadaver carbonizado, mas tudo o que estava era Drak, ileso, vestes intocadas pelas chamas.
- Como? Tu foste atingido.
- Sim.
- Estás ileso.
- Sim.
- Como?
Drakallis desapareceu da visão do mago. Sombras atrás do mago ergueram-se e engoliram-no. Tudo à volta era escuridão, e a forma de Drak erguia-se à sua frente.
As tentativas do mago de conjurar fosse o que fosse eram em vão. Drak sabia disso e aguardou, paciente que o mago voltasse a falar, o que demoraria uns dois minutos.
- Porque é que eu não consigo usar nada?
- Não tens fonte de mana.
- Eu sou a minha fonte de mana.
- Criança. Brinca com o fogo e pensa dominar o sol.
- Pára de gozar comigo. Se os teus poderes são remotamente parecidos aos meus, tu tambem não deves conseguir usar nada.
- Achas mesmo que eu sou parvo? Sim, este pequeno globo de escuridão é engraçado, mas a verdade... tu já não te encontras em Selenia. Estás fisicamente cortado das tuas fontes de mana. Estás fora do teu plano, e não consegues aceder a ele para drenar mana para alimentar a tua magia. Estás num plano de sombras.
- Mas isso significa que eu posso aceder à mana deste situo.
- Não me parece. Tenta usar uma das tuas magias com a mana deste situo então.
Uma pausa...
- Não consigo. Mas presumo que tu sim, e te vais dar ao prazer de me explicar o porquê.
- Porque pensas isso?
- Não te certificaste de que eu pudesse apenas depender do meu corpo para nada. Ou vais matar-me, ou vais explicar.
- Ou ambas.
- Ou ambas. Mas começa por explicar. Ao menos morro com mais conhecimento.
- É essa a atitude. Isto é um plano nulo. Não consegues aceder a mana do teu tipo aqui. Sim, há mana, e sim, eu consigo aceder a mana. Tu tambem consegues. Mas pelo que percebi tu és um mago de fogo. Precisas de tal.
- Exacto.
- Eu não. E eu estou perfeitamente em harmonia com este situo. Estás neste momento no situo onde costumo vir meditar. Arrastei-te através de uma porta que sabia existir ali. Deste lado, infelizmente para ti, já me apercebi que eu posso ver a porta e tu não.
- Há uma saida deste sitio?
- Há. Mas se não consegues vê-la, não consegues usa-la. Vais precisar de mim para sair daqui. Portanto, mesmo que ainda penses que me podes matar, sim, até talvez pudesses caso conseguisses reaver a tua energia, coisa que te consigo sentir a fazer neste preciso momento, o que implica que se me matares, ficarás aqui preso. Podes continuar a tua busca.
- Certo. Portanto, vais esperar que eu recupere é?
- Sim.
- Então explica-te.
- Que queres saber?
- Onde estou?
- Num plano nulo. Tal como te disse, transportei-nos do beco para junto da porta deste sitio. É como uma outra dimensão que não a que estás habituado a ver.
- Há outras então.
- Biliões.
- Exploraste?
- Alguns milhares. Alguns são sitios grandes, outros nem tanto.
- Como acedes a mana aqui?
- Através do ether, mesmo que em qualquer outro sitio. Tu não consegues é encontrar o teu caminho através dele para um sitio que te seja familiar.
- Estou mesmo fisicamente desconectado?
- Sim, é isso que te está a causar dificuldades. Eventualmente, conseguindo meditar e apalpar, digamos, conseguiras aceder. Eu tenho é outra familiaridade com o sitio. Mas se conseguires canalizar mana negra, este sitio está repleto dela.
- Magia negra?
- Sim.
- Não conheço magia proibida.
- Isso é hilariante. Proibida porquê?
- A mana negra corrompe.
- A mana corrompe. Toda a mana. Modela-te mais à sua forma de ser.
- A mana negra torna-te mau.
- Define mau.
- Erode a tua humanidade. Torna-te louco com o tempo.
- Pareço-te louco? Ou malvado?
- Honestamente? Um bocado de ambas.
- Porquê?
- Porque arrastaste alguem para um local onde é indefesa e de onde não consegue sair.
- Puto, mesmo eu eventualmente canso-me de estar constantemente a evitar os teus ataques. Arrastei-te para aqui precisamente para não ter que o fazer.
- Portanto assim que eu conseguir aceder a seja o que for, posso matar-te, eventualmente.
- Hum?
- Se tambem te cansas, implica que poderemos voltar a insistir. Talvez te canses mais cedo que eu.
- Ou eu mato-te agora, que tal? Ou esqueces-te que ainda só me viste defender-me?
- Que raios podes tu fazer?
- Lembras-te da tua familia, certo?
- Sim.
- Eu posso assegurar-me que não.
- Hum?
- Exacto. É uma forma de ataque.
- Apagar memorias?
- Posso apagar a tua mente, garantir que tudo desvanece. Transformarte-ias num pratico zombie, sem proposito excepto os instintos mais basicos. Vi pessoas a sobreviverem a um ataque assim e nunca mais recuperarem. Ainda vivos hoje, naquela miseravel condição.
- Como podes ser tão cruel?
- Ei. Quem disse que fui eu a fazê-lo?
- Se sabes que consegues fazê-lo...
- Não sou nenhum monstro, ao contrario do que pensas. Sou maioritariamente um recluso das minhas memorias, praticamente nao interagindo com o mundo. Admito que algumas das coisas que tive que fazer nao foram muito agradaveis, mas o mundo é um sitio melhor pelo que eu fiz.
- Referes-te ao teu tempo nos Escarlates?
- Tambem.
Estão ambos sentados na escuridão. Um longo silencio, quebrado por Drak.
- Como te chamas?
- Chamam-me Ignis.
- Drakallis. Drak para os amigos.
- Eu sei.
- Como sabias?
- Ja te tinha seguido antes.
- Andas atrás de mim desde aquilo?
- Exacto. Já tinha estado proximo, só nunca tinha sido convidado a beber por ti antes.
- Já tinha percebido que algo se andava a passar por isso tenho andado sossegado. Honestamente nao esperava um miudo.
- Tens inimigos?
- Toda a gente tem.
- Não lidas com isso, senhor todo poderoso? É que aparentemente podias.
— Prefiro manter-me no meu canto.
- Saiste mesmo de activo?
- Mais ou menos. Arma-te em louco onde eu esteja e eu acabo contigo num piscar de olhos. Isto aplica-se a todos. Mas tento resolver tudo diplomaticamente hoje em dia.
- Como comigo?
- Exacto.
- Porquê? Podias simplesmente eliminar-me já. Sabes que nao desistirei.
- Pode ser que tentes pelo menos perceber que ainda nao chega, e portanto convem melhorar as tuas habilidades primeiro.
- Ainda assim.
- Encontramo-nos para tal proposito quando quiseres. Mas hoje nao me apetece matar-te. Espero que penses que aquilo que aconteceu foi realmente algo bastante tragico que fui obrigado a fazer. O Willie perdeu a perna graças a isso. Os nossos dois companheiros morreram ás mãos daquele demonio, se ele nao fosse parado, não so os que morreram na devastação, mas toda a cidade teria morrido se eu falhasse.
- Não conseguias outra forma?
- Eu... não consegui conter toda a energia. Tentei enquanto foi possivel salvar o hospedeiro, mas... Quando percebi que era impossivel... Apercebi-me que para acabar com ele tinha que lhe cortar qualquer possibilidade de fuga.
- Do demonio?
- Sim. Caso eu tivesse morto o hospedeiro ele poderia tentar passar para outro hospedeiro ou seria forçado a voltar ao seu inferno de origem. Eu tive que certificar-me de que não haveriam hospedeiros.
- Havia pelo menos tu e o Willie.
- O Willie é imune. O Willie tem algumas habilidades um pouco fora do normal.
- Havias tu.
- Exacto. Mas uma batalha por controle da minha mente eu aguento bem, não aguento é que um demonio fique com uma porta aberta para o meu mundo e sobreviva para a usar. Obviamente ele tentou. Mas foi uma batalha sem qualquer esperança desde o inicio. Sem um hospedeiro controlavel, nao teve muito tempo para começar a faltar-lhe a energia para se manter neste mundo. Eu simplesmente garanti que o seguia. Consigo seguir qualquer teletransporte, seja de que tipo for, se o vir a acontecer. Eu consigo ver portas astrais, logo, foi facil de seguir o demonio até a origem dele.
- Mataste-o.
- Estou aqui, certo?
- Certo.
- Ensina-me. Mostra-me como melhorar.
- Puto, na melhor das hipoteses, eu mostro-te mais poder. Sobre melhorar... isso será contigo.
- Aceito.
Nova sensação de desfazamento, e encontravam-se ambos de volta a clareira.
- Ignis, aqui acedes a mana. Arranja uma fogueira se faz favor.
Acamparam sem muitas mais palavras, adormecendo ao calor da fogueira.